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Demanda mundial e cenário nacional favorecem o agronegócio no Amapá

Todos os anos, a população mundial cresce em grandes proporções, contabilizando milhões de pessoas a mais e ampliando a necessidade de utilização dos recursos naturais, sobretudo voltada à produção de alimentos. Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU, existem dois países em destaque onde ocorre considerável transformação na mobilidade social e geográfica, ocasionada pela elevação das condições produtivas nos últimos 15 anos.

A China, nesse período, teve mais de 400 milhões de pessoas migrando do campo para as cidades, tendo como consequências a diminuição da população produtora de alimentos e o aumento do consumo, visto que os melhores salários ofertados nos trabalhos desenvolvidos nas cidades aumentam o poder de compra desta população que passa a consumir cada vez mais alimentos, ampliando a demanda de produção em nível mundial. A instituição também afirma que mais 300 milhões de chineses ainda farão esse movimento nos próximos 10 anos, mesmo quantitativo que também alcançará a vizinha, Índia, totalizando cerca de 1 bilhão de pessoas que demandarão mais alimentos a serem produzidos. Por isso, o mundo precisa encontrar formas de corresponder a essa necessidade urgente de uma população cada vez mais urbana, de acordo com o Banco Mundial.

 Diante de tudo o que o mundo ainda pode avançar na produção de alimentos, o Brasil possui fundamental importância por ser detentor de 40% de todas as áreas agricultáveis no planeta, em todo o potencial que possui o mundo em produção, de acordo com dados da ONU.

 Atualmente, o Brasil é líder em produção e exportação de alimentos em diversas áreas do agronegócio mundial, a exemplo da soja em grãos, café, laranja, milho, açúcar, frango, suíno, bovinos, bubalinos, dentre outros. A tendência brasileira é de desenvolver sua vocação na produção de alimentos e ser o mais importante produtor para as populações mundiais. Assim, o agronegócio tem se tornado o mais sólido pilar da economia do país, representando, de acordo com a CNA, 23% do PIB brasileiro, impactando nas exportações com a maioria dos produtos de nossa balança comercial, além de causar efeitos sinérgicos nos demais setores, proporcionando o aquecimento do comércio, serviços, indústria e tecnologias, e impulsionando a geração de empregos que chega ao patamar de 37% das vagas de trabalho do país.

Por sua vez, a economia do Amapá começa a sentir alterações constatadas em estudos que apontam a volta do crescimento do PIB amapaense em 0.4%, em 2017 (IBGE, 2017), em uma curva de crescimento sustentada exatamente pelo setor agropecuário.

Apesar do agronegócio iniciar um movimento no sentido contrário ao decréscimo que nossa economia sofreu nos últimos anos, ainda não cortamos o cordão umbilical com a União, pois, segundo o Receita Federal, a relação entre os impostos arrecadados e os recursos repassados pela União a cada estado, aponta unidades federativas como São Paulo com uma arrecadação de R$ 455,9 bilhões e um repasse de R$ 33,7 bilhões, representando um déficit de R$ 422,2 bilhões. Enquanto o Amapá arrecada R$ 793,2 milhões e recebe R$ 3,1 bilhões, em superávit de mais R$ 2,3 bilhões. Este fator demonstra que existe uma grande lacuna entre a produção de riqueza e a formação do orçamento público estadual, comprometendo de forma negativa os demais elementos constitutivos da economia da região. Isso explica, por exemplo, o declínio dos empregos no comércio do estado que chegou a 18,1%, em 2017, e consiste em um produto da dependência financeira com a União, intensamente suscetível às variações da economia do governo central, assim, o setor produtivo, sobretudo do agronegócio, pode significar um importante viés na produção de riqueza e formação de mercados de trabalho e de consumo, pois, segundo a FGV/AGRO, a partir de 80 hectares de produção no campo, é gerado 1 emprego diretamente, ao passo em que outros 10 são gerados nas cidades.

Um olhar além das áreas de atribuição legal do território amapaense, que são compostas por 15 unidades de conservação, 50 assentamentos agrários, 05 demarcações indígenas e 06 quilombolas, as quais ocupam 11,7 milhões dos 14,2 milhões de hectares do estado, correspondendo a 82% do território, já excluindo as sobreposições das mesmas áreas, revelam que restam à produção de grãos 400.000 dos 986.198 hectares de cerrado, representando uma pequena fatia de 2,8% das terras.

A partir desses dados, podemos realizar análises importantes dos impactos sociais e econômicos ocasionados pelo agronegócio no Amapá. A primeira é que os 2,8% do território não colocam em risco os biomas presentes na região ou as comunidades tradicionais, visto que os 82% de áreas atribuídas comportam a diversidade biológica e cultural. A segunda análise considera os 400 mil hectares disponíveis capazes de produzir, nas médias atuais de produtividade no Amapá, 1,2 milhão de grãos de soja e 1,5 milhão de milho, rendendo diretamente R$ 2,6 bilhões, e cerca de R$ 15 bilhões com os feitos multiplicadores como o start de outras cadeias produtivas e a verticalização; ainda, que os mesmos 2,8% do território podem gerar aproximadamente 55 mil empregos, um número maior do que a soma das populações rurais absolutas dos municípios produtores de Macapá, Itaubal, Tartarugalzinho, Ferreira Gomes e Porto Grande, o que chega ao total de 38.655 pessoas. Em quarta análise, a geração de empregos no campo possibilita, ao médio prazo, a inversão do movimento de deslocamento das populações do campo para as cidades, o qual fez com que na década de 1950 a população urbana fosse de 37% e a rural de 63%, ao passo em que o último senso do IBGE aponta que essa ordem passou para 88,3% e 11,7%, sobretudo resultado do processo de urbanização, derrubando completamente argumentos de que o recente plantio de grãos seja o fator responsável pelo deslocamento de populações de comunidades tradicionais para as cidades; e mais, a inversão desse movimento se reforça pela chegada da tecnologia e educação no campo, visto que o agronegócio amapaense inicia recebendo as melhores experiências científicas voltadas à produção, acumuladas no transcurso do setor no país, fazendo do trabalho no campo atividade altamente tecnificada e salários extremamente atrativos para que os jovens do interior permaneçam em seu lugar de origem, a exemplo com o que vem acontecendo no município de Porto Grande, onde se oferece o curso de Engenharia Agronômica e iniciará uma graduação em Medicina Veterinária e, em outros lugares, também cursos técnicos e tecnológicos, configurando uma corrida das instituições públicas e particulares de ensino visando o novo e pujante mercado.

Segundo a Casa do Agro, instituto de agrega a APROSOJA-AP e a ACRIAP, entidades representativas dos produtores de proteína vegetal e animal, a projeção é de que o agronegócio amapaense gere aproximadamente 140 mil empregos, se desenvolvido todo o seu potencial, não apenas na produção no campo, mas passando pelas cadeias de proteína animal e industrialização para a agregação de valor aos produtos nas cadeias de biocombustíveis, lubrificantes, carnes, rações, couros, cosméticos, alimentos processados e outros.

As atividades do agronegócio desencadeiam resultados positivos não apenas para a iniciativa privada, mas reforça a arrecadação de impostos que formam os orçamentos públicos, elevando a qualidade dos serviços ofertados à população, possibilitando melhor qualidade de vida. Neste sentido, estudos desenvolvidos pela consultoria Kleffman, mostram que os 100 municípios que mais investiram no agronegócio moderno, tiveram crescimento do IDH acima da média nacional, destacando a cidade de Sapezal-MT com um crescimento de 115%. A ordem segue com Nova Mutum-MT, São Desidério-BA, Correntina-BA, Coruripe-AL e Barreiras-BA.

As cidades do agronegócio cresceram mais que as capitais brasileiras nos últimos 15 anos (Firjan) e se destacam em outros índices, a exemplo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, e o Índice de Sustentabilidade e Limpeza Urbana – ISLU, no qual se destaca a cidade de Maringá-PR, mantendo-se na liderança há 05 anos.

O Amapá possui terra, porto e localização estratégica ao desenvolvimento logístico, regime de chuvas e luminosidade diferenciados ao agronegócio, e viabilidade econômica na implantação de projetos para o setor como fundamentos sólidos no alcance do crescimento econômico e do desenvolvimento social para se tornar um dos melhores estados do país para se viver, investir e trabalhar.

Os desafios da última fronteira brasileira para o agronegócio são os processos de regularização fundiária, licenciamento ambiental, financiamento e formação profissional entrarem definitivamente na pauta de discussão das políticas públicas, estimuladas principalmente por meio da organização e atuação de entidades do setor e representatividade os espaços de poder, para o avanço gradativo das condições,  fluxo e aumento da produção no campo, fomentando cadeias de proteínas vegetal e animal como base para a atração e instalação de agroindústrias e traderes, no processo de industrialização do Amapá. 

 

Juan Monteiro

Administrador e Jornalista

Marketing do Agronegócio – USP

 

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